dois solos de oboé


No último fim de semana antes de ir embora de Malta, a menina que eu gosto participou de um concerto. Ela toca oboé1 e foi selecionada pra se juntar a uma orquestra juvenil aqui em Malta, mas acabou que quase não teve tempo de participar de nenhum evento, até que aos 45 do segundo tempo, chamaram ela pra esse concerto. Mas não era um concerto padrão qualquer, uma orquestra tocando alguma obra de Vivaldi ou algo assim. Era um concerto de clássicos do rock anos 50 e 60. Com a orquestra… por trás de uma banda de rock.

Eu cheguei a ficar com dor de cabeça de tanto que me concentrei pra ouvir as partes dela, mas não era possível. Mal dava pra distinguir a orquestra quando a banda tava tocando porque o volume era tão mais alto. E pra completar, o tecladista cabeludo obstruiu a minha visão dela.

Eu sabia que ela teria dois solos, e tinha já marcado os momentos certos da setlist pra ficar atenta e não perder. Mas quando chegou a hora, em meio a toda essa baderna, era impossível ter certeza se eu tava ouvindo o oboé dela mesmo.

E aí, quando fomos jantar, ela me contou que tinha gravado tudo. Geniazinha, ela deixou o celular no chão ao pé da cadeira dela gravando o concerto inteiro. E aí eu pude ouvir tudo da perspectiva que eu queria. Deitadas na cama antes de dormir, a gente achou os dois solos dela, e eu anotei os instantes certinhos. E ouvi de novo incontáveis vezes. E cortei, pra ouvir de novo mais fácil. E aprendi a assoviá-los. Às vezes quando eu tô entediada fico praticando assoviar cada um.


O solo dela em Love Hurts.


E o outro em A Whiter Shade of Pale. Nessa performance do vídeo também tem uma orquestra e o comecinho da música é todo dos instrumentos de corda, mas no concerto dela, o compositor (fez tudo por mim e) substituiu por um solo de oboé.

Eu sei que é tipo ouvir uma trilha sonora emocionante sem ter visto o filme. Eu não vou tentar explicar a maneira que o meu coração aperta quando ouço “Something In The Rain” pra alguém que não asssistiu Something In The Rain. Mas “Save The Last Dance For Me” ainda é uma linda música, e um bom solo de oboé ainda é um bom solo de oboé. Na pior das hipóteses, se você — assim como eu até Outubro de 2022 — não sabe direito como é o som de um oboé vienense, e muito menos tocando clássicos do rock, agora você tem uma ideia.

(Talvez esteja se tornando o meu instrumento favorito.)


  1. Oboé vienense, especificamente, e não o oboé “padrão” que é o francês. Ela toca o tipo de oboé que só é usado por orquestras em Viena e tem uma palheta que precisa ser feita à mão e ficar 10 minutos submergida em água antes de ser usada. Um rolezão.