críticas minuciosas das aulas de yoga que já fiz em barcelona


Porque eu comecei a pagar um estúdio de yoga estilo academia low-cost onde eu posso ir em quantas aulas eu quiser por mês e eles têm vários estilos diferentes então eu vou experimentar várias e eu quero registrar bem o que eu achei de cada uma.

Yoguilates (intensidade baixa) com Gloria, quinta à noite: ★★★☆☆

Muito mais yog que uilates, inclusive fiquei em dúvida se o tal do pilates estava mesmo na sala com a gente. No máximo fizemos alguns alongamentos um pouco mais prováveis de serem encontrados em uma aula de academia do que de yoga. Mas eu nunca fiz pilates puro clássico, só neopilates que era basicamente um híbrido de yoga e circo, e se juntar essa aula com uma outra aula de “Método Pilates” que eu fiz por 3 meses no SESC de Barcelona, diria que até agora a minha impressão do “pilates” é bem ruim. Começamos com uns 10 minutos de respirações esquisitas, o que já me deixa profundamente infeliz em qualquer aula de yoga, e o grosso da aula em si deve ter durado meia hora. E ao fim da meia hora em questão, a instrutora propôs que os alunos tentassem fazer um bakasana, a pose do guindaste. Pelo pouco que eu vi, só o cara na minha frente conseguiu e com um tanto de dificuldade. No caso não vi muito porque graças a minha gay audacity de acreditar que eu sou capaz de fazer qualquer coisa, eu obviamente estava ali tentando fazer o bakasana, uma pose que eu nunca consegui sustentar por mais de 2 segundos nem quando fazia yoga intermediário consistentemente e inclusive tendo feito um workshop de 4h só dessa pose específica. Então digamos que me pareceu um pouco audacioso pra uma aula de “intensidade baixa”, e inclusive bastante irresponsável da parte de um instrutor sugerir essa pose sem ter dado nenhum exercício de preparação específica antes, nenhum agachamento ou alongamento de quadril. Mas eu devia deixar de me surpreender com a maneira como instrutores de yoga lançam essas ideias de fazer umas poses para as quais eu treinava por meses no neopilates pra conseguir fazer direitinho. Saudades do neopilates.

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Hatha Vinyasa (intensidade baixa) com Diana, domingo de manhã: ★★☆☆☆

Tinha tanto pra falar dessa aula que o tanto que eu reclamei quando cheguei em casa deve ter anulado o pouco que eu consegui alinhar meus chakras na aula em si. No caso foi tanta reclamação que eu esqueci boa parte de como foi de fato a aula além do que me irritou, então vou escrever só da parte negativa.

Essa instrutora era bem daquele tipo de instrutor de yoga que não sabe brincar; os que levam tudo a sério. Ela foi bem específica sobre os exercícios que escolheu e sobre como explicava eles e passava pela sala corrigindo todo mundo até nos mínimos detalhes. Eu não tenho reclamações especificamente sobre isso; talvez não seja o meu estilo mas não acho ruim.

Mas aí ela disse pra gente evitar beber água.

Ainda assim, até aí tudo bem; a instrutora pode falar o que ela quiser e eu posso fazer o que eu quiser. Eu entendo algumas das razões pelas quais não é muito recomendado beber água durante a prática de yoga e eu me importo com um total de 0 delas mas eu posso respeitar a sugestão. Mas essa mulher virou a polícia da água. Ela chamou a atenção de todo mundo que se atrevia a tentar dar um gole de suas garrafas d’água e fez um par de sermões sobre isso. E o detalhe mais importante aqui é: estamos no auge do verão. Nesse dia estava fazendo 36 graus. E o ar condicionado desse estúdio é medíocre. Isso não vem muito ao caso aqui porque eu quero criticar as aulas e não a infraestrutura do estúdio mas tem me incomodado bastante e em todas essas aulas eu estou pingando suor, minha mão escorregando no tapete. Éramos cerca de 30 miseráveis nessa sala com a janela fechada e o ar condicionado mal funcionando. Foi nesse contexto que a instrutora resolveu falar pra gente não beber água.

“Aguentem e deixem crescer o fogo dentro de vocês”, ela disse. Eu queria gritar pra ela que o fogo não estava dentro de ninguém e sim ali naquela sala mal climatizada, e ele tava queimando desde a minha garganta até a ponta do meu pé.

“Você não está com sede, a vontade de beber água é o seu corpo tentando te distrair da prática.” E quer saber? Talvez ela estivesse certíssima. Talvez não era sede e sim o meu corpo tentando me distrair do calor absurdo que eu tava sentindo. E eu informei isso pra ela com um gesto abanando o meu rosto pra expressar o meu descontentamento, ao qual ela respondeu sussurrando, “aguenta”. E eu não bebi água, porque com essa atitude ela conseguiu me fornecer uma distração diferente: o ódio.

Pra completar, seguindo o trend de instrutores de yoga lançando poses que eu não sinto que a aula tenha minimamente preparado alguém pra fazer, essa terminou com uma invertida de 3 bases, uma pose em que o yogi se coloca de cabeça pra baixo equilibrando-se em cima da cabeça e as duas mãos no chão. Uma pose que é o mais absoluto terror de pessoas como eu que sentem dor insuportável na cervical pelo resto do dia se ficarem sentados no sofá com a postura meio ruim por cerca de meia hora. Quando eu fazia neopilates a instrutora repetia exaustivamente pra gente nunca tentar fazer essas poses se não conseguisse colocar o peso do jeito certo no ombro pra não arriscar lesionar a cervical.

Uma única mulher subiu nessa pose sem nem esperar a professora terminar de explicar, como se tivesse esperado a aula inteira por aquele momento, e ninguém mais na turma de umas 20 pessoas conseguiu. Outros começaram a praticar bakasanas e invertidas mais fáceis. Eu, sentindo zero gay audacity depois de ter suado igual uma porca por 1h sem parar, fiquei alguns segundos numa pose do golfinho só pra fingir que tava tentando e depois deitei.

Estamos há 0 dias sem sentir saudade do neopilates. Nosso recorde é 0 dias.

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Vinyasa (intensidade média) com Maria Jose, quarta à noite: ★★★★☆

Essa foi a primeira que eu realmente gostei. Entregou o que prometeu, nada mais, nada menos: uma aula de vinyasa de intensidade média. Um montão de poses boas com duração entre 1-3 segundos, que pra mim é o ideal. Vários equilíbrios legais que eu não consegui fazer mas espero conseguir com mais algumas semanas de prática. Nenhum exercício absurdo sem preparação. A única coisa esquisita foi quando ela disse pra gente botar todo o ar pra fora do pulmão e inclusive botar a língua pra fora e ficamos todos muito confusos mas ela mesma riu da reação da turma e explicou melhor que a língua pra fora era só pra ajudar a relaxar então eu vou deixar passar (não botei a língua pra fora).

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Vinyasa Flow (intensidade média) com Fabiana, sábado de manhã: ★★★★★

Pouquíssimo a comentar sobre essa aula porque foi ótima. A instrutora era super alto astral e bem profissional na maneira que explicava os exercícios e explicava o que a gente precisava ajustar pra fazer cada pose direitinho e evoluir bem sem erros. Acho que fizemos uns 2 ou 3 flows na aula inteira, sem ficar pulando de uma coisa pra outra nada a ver, evoluindo as poses a níveis de dificuldade mais altos com calma e cuidado, e com alternativas pra quem não atingia as mais difíceis ainda. Eu fui bem motivada pra essa aula e saí mais ainda, feliz de ter conseguido fazer tudo sem desistir, me sentindo bem e animada pra continuar evoluindo. E ela também reclamou do calor e botou o ar no máximo possível e bebeu água e não reclamou dos alunos bebendo água também. Zero críticas.

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Iyengar (intensidade baixa) com Fabiana, terça à tarde: ★★★☆☆

Eu nunca tinha feito iyengar antes então eu dei uma pesquisada básica sobre o que é esse estilo antes de ir e fui com a mente bem aberta, mas nada disso foi necessário porque a aula foi literalmente a mesma coisa que a Fabiana deu sábado passado. E quando eu digo a mesma coisa eu quero dizer que passamos a aula toda focando no mesmo exato flow da aula de Vinyasa Flow, uma série de triconasanas pra chegar em um equilíbrio meio difícil que chama postura da meia-lua. Eu entendo como a aula dessa instrutora é mais puxada pro iyengar se esse estilo se define por focar bastante nas tecnicalidades e na execução das posturas em uma sequência produtiva e não em qualquer ordem, mas o fato de que a gente fez a mesma coisa em duas aulas que supostamente tinham estilos e níveis de intensidade diferentes me faz pensar que a Fabiana simplesmente ensina o yoga que ela quer independente da descrição da aula que ela assumiu, tipo aqueles professores da faculdade que pegam uma matéria genérica pra dar e transformam em um curso intensivo da pesquisa de doutorado deles. Talvez eu vá em mais uma aula com ela pra confirmar se é isso mesmo ou se ela só tava na vibe da meia-lua essa semana.

Pra piorar, dessa vez eu fiquei irritada com mais algumas coisinhas. Primeiro, quando o triconasana evoluiu pro meia-lua, eu fiz algo errado ou me forcei demais e senti dor no ombro. Como a aula tinha um certo foco na tecnicalidade, quando a Fabiana perguntou se tínhamos dúvidas eu falei isso pra ela e pedi pra ela vir ver se eu tava fazendo tudo certo, e ela disse que ia ver, e aí ela meio que só não veio e seguiu a aula normal. No caso ela seguiu a aula e indicou que fizéssemos uma invertida clássica, a tal da invertida que eu treinei por meses pra fazer no neopilates e já não consigo mais no momento por uma série de razões. Dessa vez infelizmente eu era uma de 2 ou 3 pessoas que não conseguiam fazer a invertida. A maioria já tava lá em cima ou pelo menos tentando equilibrar na parede pra sustentar. E aí a Fabiana decidiu que a aula continuaria só pra eles mesmo. Apesar de estar falando constantemente que ia passar outros exercícios pra quem não conseguia ainda poder treinar pra eventualmente subir na invertida, ela foi deixando de lado e andando pela sala pra ajudar os que já estavam na posição, ou passando exercícios pra eles irem se virando e aumentando a dificuldade da invertida. Eu fiquei meio sem ter o que fazer esperando eles terminarem, treinando um pouco com o que eu já havia treinado antes pra essa invertida mas um pouco frustrada porque nesse momento eu ainda tô muito longe e depois de passar uma aula inteira focando em outra coisa não era exatamente o momento ideal pra tentar reviver um movimento difícil e perigoso que eu não faço há 5 anos.

Então em resumo essa aula foi um pouco frustrante e de repente eu vou na de sábado mais uma vez pra ver qual é mas se eu passar mais uma hora fazendo triconasanas em loop pela terceira vez talvez seja o fim da minha curta relação com a Fabiana.

Vinyasa (intensidade média) com Maria Jose Linda, quarta à noite: ★★★☆☆

Essa aula já começou toda errada porque eu cheguei e fiquei esperando aparecer a instrutora que eu já conhecia na sala 2 e quando fui ver essa tal de Linda tava começando a aula de Vinyasa na sala 1. Porque a Maria Jose tá de férias e o mês de Agosto na Espanha é o maior inimigo da minha necessidade de ter uma rotina estável e funcional. O outro detalhe é que eu fui desatenta e pensei que a aula era “intensidade baixa” mas era média. E nesse caso tenho que dizer que a Linda respeitou o nível de intensidade definido. Infelizmente, uma aula de “intensidade média” pra mim hoje em dia é bastante intensa.

Começamos mal: primeiro ado mukha svanasana (perro boca abajo), sempre um momento de ossos estalando pela sala inteira, músculos começando a acordar pra realidade do que está acontecendo… e aí transição pra prancha. E de volta pro ado mukha. Eu estava incrédula. O primeiro flow da aula consistiu em dez séries de ado mukha e prancha, uma violência descomunal com os meus ombros. Nem uma saudação ao sol tínhamos feito ainda. Todos estavam respirando pesado; os homens bufando mais que um pug saindo pra dar uma volta na esquina. Ali mesmo eu decidi que teria que fazer uso da sugestão da professora de descansar na pose da criança se eu estivesse muito cansada ao invés de ficar insistindo e morrendo nas poses.

Não lembro o que mais aconteceu nessa aula porque a partir desse início tudo passou como um borrão, eu estava em modo sobrevivência. Profundamente arrependida de ter ficado na primeira fileira da sala; todo mundo testemunhando a minha derrota. Não acho que teve um único momento dessa aula em que eu me senti satisfeita comigo mesma, qualquer dopamina que eu possa ter produzido fazendo um efeito desprezível diante da situação. Tudo ficou claro quando a própria instrutora fez uma piada de “Vinyasa ou yoguilates?” e deu uma risadinha, o que eu achei pouquíssimo engraçado já que eu estava ali para uma aula razoável de vinyasa e não yoguilates. Tá se mostrando muito difícil ser uma amante do vinyasa nessa cidade.

Não imagino que vá cruzar de novo com a Linda já que ela veio como substituta, mas se eu visse o nome dela na tabela de horários, talvez eu deixaria pra ir quem sabe um dia quando eu me sentir bem melhor condicionada do que eu estou agora. Se esse dia chegar.

P.S. Um momento legal dessa aula que eu queria registrar: no final a Linda deu um tempo pros alunos treinarem poses mais difíceis que estão praticando, e quando a mulher do meu lado tentou subir numa invertida com um excesso de impulso e imediatamente caiu de costas (de maneira segura), a professora passou por ela e disse assim: “De puta madre.1 La mejor manera de perder el miedo es caer.” Achei bonito. Temos mesmo que aprender a cair.

Vinyasa Flow (intensidade média) com Fabiana, sábado de manhã: ★★☆☆☆

Resolvi dar uma última chance pra Fabiana e dessa vez com certeza foi a última porque mais uma vez passamos a aula inteira fazendo triconasanas e eu não aguento mais essa pose. Claramente Fabiana tem uma hiperfixação com triconasanas e resolveu tornar isso um problema meu e eu me recuso. E ao contrário das outras duas aulas que fiz com ela, dessa vez o triconasana não evoluiu pra pose da meia-lua e sim pra outro triconasana mais difícil. Isso tudo foi bastante agravado pelo fato de que tava muito calor e o ar condicionado só foi ligado na hora da aula e tinha pelo menos 30 pessoas na sala então eu estava suando a ponto das minhas mãos e pés escorregarem no tapete e eu só queria morrer. Vou precisar passar o resto do ano sem ouvir falar em triconasana.


  1. Interjeição positiva.