a chegada do verão, dia após dia


Fevereiro: Continuou frio mas já era outro frio. Agora, quando eu faço comida, ela não esfria toda antes de eu conseguir terminar o prato. Quando faço chá, demora mais pra eu poder beber. Boto roupa pra secar na varanda e a roupa de fato seca, não fica só menos úmida. Não ligo mais o aquecedor todo dia.

09 de março: Primeiros indícios de calor. Saí de chinelo e camisa de manga dobrada e desci pro litoral, uma caminhadinha de 10 minutos terminando em um ladeirão que dói as panturrilhas mas impede que a minha rua alague quando cai um toró. Fiquei quase 3h deitada num paredão na beira do oceano escutando as ondas batendo. Várias vezes pensei se já era suficiente pra voltar pra casa e continuar estudando, mas aí decidi aproveitar o sol, e ficar até eu não querer mais estar lá.

18 de março: Última vez que precisei de casaco de inverno pra sair. Começou a era das jaquetinhas de outono.

29 de março: Um mosquito me acordou de madrugada zumbindo no meu ouvido; e começou a minha saga inacabável com as moscas que entram no meu quarto. Moscas de incontáveis espécies e tamanhos e intensidade de zumbidos, e imunes a todos os métodos anti-moscas que testei.

31 de março: Desci pro mesmo lugar na beira do oceano de novo, de calça jeans e jaqueta por ter superestimado o vento frio, e constatei que já tinha gente nadando. Um velhinho de roupa de neoprene nadando de um lado pro outro; duas meninas com cara de turistas alemãs; três pré-adolescentes malteses vindos da escola. Senti um impulso de voltar correndo em casa e botar meu biquíni; eternamente a criança que precisa entrar na piscina em todo e qualquer rolê que tenha piscina.

04 de abril: Fui comprar novos tops pra fazer yoga porque tava começando a suar de blusa de manga curta. O pessoal do estúdio já parou de ligar o aquecedor há semanas.

26 de abril: Enfim fui à praia de verdade, de biquíni, não só pra sentar e pensar na vida mas pra torrar no sol e nadar no mar. E nadei… por uns 4 minutos. A água tava congelando. Saí com o corpo inteiro em choque como se tivesse sido eletrocutada. Uma amiga foi queimada por uma água-viva pequenininha.

27 de abril: Descobri um mapa online classificando praias como seguras ou não pra nadar em termos de quantidade de águas-vivas, e quase todas estavam com o alerta vermelho. Uma amiga me mandou uma foto em uma das praias paradisíacas meio remotas do outro lado da ilha; o mar clarinho clarinho, e absolutamente coberto de águas-vivas. No mapa, essa tava marcada em verde.

28 de abril: Dormi mal, começando a sentir aquele calor incômodo, o quarto abafado. Abrir a varanda não é uma opção, com a variedade de insetos horripilantes que eu já tive que assassinar nesse quarto. Ignorei e continuei tentando. Acordei e dormi de novo, rolei na cama, tirei o lençol, rolei mais. Enfim, às 5 da manhã com o sol já começando a entrar pelas frestinhas da cortina, me rendi e liguei o ar condicionado. Quando enfim levantei, o chão tava coberto de fagulhas pretas, vestígios do meu split se reajustando após meses só no modo aquecedor.

06 de maio: Nadei, e a água não estava congelando, e ninguém foi queimado por águas-vivas. Queimei só os ombros, reparando tarde demais que precisava passar protetor solar no corpo também.

07 de maio: Deixei chocolate fora da geladeira, e ele derreteu. Troquei a camiseta que eu tava usando em casa por uma regata, e pensei 2x antes de fazer chá.